segunda-feira, 2 de março de 2015

HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO - O FIM DA MONARQUIA

A Monarquia brasileira passou por um período de desgaste contínuo. A partir da segunda metade do século XIX, a oposição ao regime se tornou nítida e chegou aos jornais da época.
 
Enquanto as cidades cresciam e se modernizavam ocorriam crises econômicas e novos agentes apareciam causando conflitos de interesses. Assim, o sistema monárquico ficava cada vez mais enfraquecido e distante das novas demandas.
 
O século XIX no Brasil foi marcado por grandes mudanças drásticas que modificaram as relações políticas, econômicas e sociais. A ideia de modernidade tomou conta e começou a entrar em oposição aos ideais do modelo republicano.
 
A ECONOMIA
 
A economia durante o período imperial tinha suas margens bem estabelecidas. Era sustentada pelo trabalho escravo, embora o trabalho livre assalariado existisse, era pouco expressivo.
 
Podemos dizer que a economia se sustentava na produção de café, que neste período já possuía uma tradição, pois era cultivado desde a década de 1820, então a elite brasileira era em sua maior parte composta por cafeicultores.
 
Além disso, essa elite tinha seu lugar demarcado, pois o café começou a ser cultivado no Vale do Rio Paraíba do Sul, área que compreendia grande parte do Rio de Janeiro e outra parcela de São Paulo.

Rapidamente o cultivo do café se expandiu largamente pela região sudeste, atingindo o Espírito Santo, outras áreas de São Paulo como Campinas e Ribeirão Preto e depois Minas Gerais, na região da Zona da Mata. Vale lembrar que Minas Gerais também se destacava pelo comércio interno ligado a pecuária.
 
Com essa expansão cada vez mais fazendas apareciam e escravos eram comprados e o trabalho de imigrantes crescia, porém não havia preocupação com planejamento de longo prazo e manutenção das terras, estas fazendas não possuíam praticamente nenhum outro recurso que não o esforço dos próprios trabalhadores.
 
Nem mesmo técnicas simples como o uso de arado e fertilizantes eram comuns e até o transporte ocorria de forma arcaica, no lombo de mulas.
 
Podemos perceber que o desgaste do solo era inevitável e irreversível, com isso a estratégia adotada pelos cafeicultores, uma vez o que solo se tornava infértil, era de mover o cultivo para uma nova região produtiva. Assim o que começou como crescimento econômico logo se transformou em estagnação, pois não havia mais áreas na região do Vale do Paraíba que fossem produtivas.
 
Ao mesmo tempo em que isto ocorria, no Oeste Paulista a produção crescia. Mas percebemos diferenças bastante significativas, a forma de cultivo no Oeste Paulista era mais refinada. O crescimento da produção estava aliado à tecnologia, os fazendeiros começaram a utilizar máquinas para beneficiar o café, além disso, a região atraiu muito mais imigrantes, principalmente italianos, e recebeu capital estrangeiro. E com as ferrovias o transporte do café se tornou mais rápido, prático e lucrativo.
 
Esta região se adaptou às mudanças que ocorriam e se beneficiou delas. Embora tenha contado com muito mais escravos, quando o tráfico interprovincial foi proibido começaram a utilizar imigrantes, o que estimulou sua vinda. O que não significava que fossem a favor da abolição, muito pelo contrário, até bem perto da assinatura da Lei Áurea a maioria era contra.
 
Esta transição trouxe uma nova forma de pensar. Enquanto os latifundiários do Vale do Paraíba tinham uma mentalidade aristocrática, os do Oeste Paulista começaram a agir com uma mentalidade burguesa voltada para o acúmulo de capital.
 
A modernidade fazia oposição aos títulos de nobreza, ela representava esse novo modo de comércio e de valorização do lucro. O fazendeiro passava a ser o homem de negócios, fazendo crescer uma burguesia agrária.
 
POLÍTICA
A cidade de São Paulo teve um crescimento muito rápido e havia se tornado a província mais rica, tudo isso proporcionado pelo café. Era a província que mais arrecadava em tributos e o que o governo devolvia causava indignação. A centralização do império não agradava mais a elite da região, que passou a ver no federalismo a forma de ganhar a autonomia necessária. Crescia então o interesse e a propagação de ideais republicanos.
De acordo com o historiador Boris Fausto, Juntamente com o período de crescimento da propaganda republicana o movimento abolicionista crescia. Como vimos anteriormente a abolição da escravidão foi um processo iniciado pela Lei do Ventre Livre em 1871, ela não ocorreu abruptamente. A abolição não foi o resultado de nenhuma insurreição de escravos, mas para os dirigentes a situação após a Guerra do Paraguai era de instabilidade, posto que não poderiam contar com a lealdade de uma grande parcela da sociedade.
 
Porém não foi apenas em São Paulo que as ideias republicanas ganhavam adeptos, na capital do império, o Rio de Janeiro, nesta mesma época foi lançado o Manifesto Republicano (1870). E embora a movimentação na capital fosse grande, não constituía um bloco unificado. A República era a mudança que se queria, mas havia dois grupos que pensavam em caminhos diferentes para chegar lá. Os evolucionistas pensavam que caberia à elite conduzir a mudança, de forma gradual. Enquanto os revolucionários pensavam na república sendo consolidada através de uma revolução popular.
Poucos anos depois, em 1873 surgia o Partido Republicano Paulista (PRP), composto de fazendeiros transitava entre liberais e conservadores, o partido ajudou a propagar os ideais republicanos. Logo esta nova visão política fez sucesso em outros estados como Rio Grande do Sul.
O republicanismo foi crescendo nas cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, havia comícios, palestras entre outros recursos de propaganda desta proposta política. A imprensa republicana criticava duramente o imperador e cada vez mais jornais entravam em circulação.
Havia diferenças significativas entre o movimento republicano em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, representado pelo PRP, os ideais giravam em torno do federalismo, onde as principais unidades da federação seriam as províncias. Além disso, havia menor interesse no fim da escravidão, na defesa de liberdades civis e políticas. Até as vésperas da Abolição o PRP evitou discutir seu posicionamento frente ao fim da escravidão. As demandas da classe paulista também eram diferentes, sua representação no Parlamento e nos órgãos da Monarquia era inferior aos demais estados, e aliada a esta insatisfação havia também reclamações sobre a aplicações das rendas governamentais, enquanto a província contribuía para o crescimento da receita do Império não recebia os benefícios proporcionais. Já no Rio de Janeiro não houve organização em partidos políticos, assim os partidos republicanos mais significativos do período estavam em São Paulo e Minas Gerais.
 
O ESTADO E A IGREJA
 
A Constituição de 1824 marcava a união entre o Estado e a Igreja, o que significava que o Catolicismo era a religião oficial do Império brasileiro e que a Igreja ficava subordinada ao Estado. A Constituição dava direito ao Estado de negar a validade de regras eclesiásticas caso o quisesse.
 
O conflito entre as duas instituições começou quando novas diretrizes foram adotadas pelo Vaticano no pontificado de Pio IX. O papa passou a ser mais rígido em relação ao que considerava “liberdades modernas” e em 1870 foi promulgado o dogma da infalibilidade papal.
 
Assim, o bispo de Olinda seguiu à risca as determinações do papa e proibiu a entrada de maçons nas irmandades religiosas. Como a maçonaria exercia influência entre os dirigentes, Visconde do Rio Branco, presidente do Conselho dos Ministros, era maçom.
 
A atitude do bispo de Olinda desagradou às autoridades e ele foi preso e condenado, logo após outro bispo foi preso.
 
A oposição republicana utilizou o incidente em suas propagandas e o movimento positivista passou a defender a separação entre o Estado e a Igreja, que seria alcançada com a proclamação da República.
A partir dos anos 1880 a política ganhou espaço nos quartéis. Com a guerra do Paraguai diversos escravos foram incorporados à corporação, tudo isso porque os fazendeiros tinham o direito de enviar seus escravos em seu lugar para o campo de batalha.
 
Além disso, o governo ofereceu liberdade aos escravos que fossem à guerra a fim de aumentar o número de recrutas. Esta aproximação ajudou a propagar a simpatia pelo abolicionismo, mais um elemento que contribuiu para o afastamento do exército e a monarquia.
 
Até a década de 1850, o Exército brasileiro era composto por membros da elite. As décadas seguintes representaram mudanças nesse quadro, pois a corporação oferecia salários baixos e aos poucos foram perdendo o prestígio social.
 
Mesmo antes da Guerra do Paraguai já havia dentro do exército críticas ao Império, com a reorganização da Academia Militar, após o conflito, a corporação recuperou parte de seu prestígio. Assim, aumentava a participação de membros de Exército na política.
 
Nessas circunstâncias, uma grande solidariedade conquistou a oficialidade do Exército, unindo-a entre si e com as tropas e evidenciando diferenças entre o militar e o civil. Nos quartéis, o poder dos civis logo passou a ser questionado. Em 1886, as opiniões dos militares chegaram às ruas através dos jornais.
 
Logo, dois nomes ficaram em evidência: Caxias e Floriano. O primeiro era um dos líderes do Partido Conservador e chegou a ser presidente do Conselho de Ministros antes da guerra. Já Floriano tinha conexões dentro do Partido Liberal, que o ajudou a ganhar prestígio em sua carreira, mas seu discurso era de militar e cidadão.
 
A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
 
A República tomou vida através do militarismo. Foi um golpe de Estado que instaurou o novo regime. Os republicanos passaram de minoria a uma forte frente, em pouco tempo, aliando-se aos militares, insatisfeitos com o regime e com a nova elite que surgira no país.
 
A Abolição da Escravidão em 1888 é considerada o “último suspiro” da Monarquia Brasileira. A escravidão era a base do sistema latifundiário. Com os escravos sendo libertos, um imperador autoritário não se encaixava mais no novo quadro do século XIX.
 
A ameaça de reconfiguração da Guarda Nacional serviu de motivação para que o Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse suas tropas no Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra.
 
Há relatos que contam que na verdade os militares queriam apenas exigir a mudança do Ministro da Guerra, mas a ameaça militar foi grande o suficiente para a dissolução do gabinete imperial e a proclamação da República.
 
Em 15 de novembro de 1889 ocorreu o golpe militar, porém ele foi reafirmado através da proclamação civil por integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Deputados.
 
CONCLUSÃO
 
Como vimos até agora, a República foi consequência de um período de mudanças e um governo que perdeu a base de sustentação política e o apoio popular.
 
Diante destas mudanças, os monarquistas não conseguiram impedir o crescimento do republicanismo. Ao final do século XIX, observava-se os sinais de enfraquecimento da Monarquia representados pela incapacidade de conciliar o novo e o antigo.
 
A Monarquia tentava atender a demanda dos conservadores mas as camadas médias urbanas, crescentes nas cidades, e os fazendeiros do Oeste Paulista.
 
A República, como toda grande ruptura, passou por diversas fases de transformação. Os primeiros anos foram marcados por divergências e disputadas em torno do caminho a seguir e a conciliação dos diversos interesses no novo regime. E os monarquistas conseguiram aproveitar os espaços deixados pelo bloco político republicano.








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